12 de nov. de 2010

Diario de Viagem III

04 a 07/11/2010: Firenze

Foram quatro dias nessa cidade magnífica que é Firenze, e eu poderia ter escrito logo, para não perder nada. Não o fiz e agora me escapam varias coisas; mas em suma, adorei muito a cidade, me senti muito bem na Itália (em alguns poucos momentos lembrei-me da querida Bela Vista, minha casa por quatro anos). Os monumentos todos, a catedral principal de Firenze, que fica na Praça do Duomo, e é a coisa mais magnífica que já no que se refere ao assunto catedral (também não vi muita coisa mundo afora, mas enfim marido já viu e conmpartilha). Majestosa, lindíssima, com um batistério igualmente magnífico. Impressiona mesmo.
E a comida... Olha. Paris é uma maravilha da culinária, como se sabe. Mas em Paris, muitas das vezes a comida é uma novidade. Se eu já conheço, já comi, na maioria das vezes não é trivial, não como em casa toda semana, etc. e tals. Já na Itália, a maioria das coisas que comi me são muito familiares. Eu cozinho ótimos risotos em casa, boas massas e bons molhos. Mas. Não faço o melhor risoto de funghi porcini que já comi na vida. Tampouco o melhor tagliatelle salteado na manteiga de um jeito tão primoroso que vou te contar, não empapa a massa nem um tiquinho que seja. Então, eu comi coisas maravilhosas na fonte, por assm dizer. E a fonte não me deixou nem um pouco desapontada, ao contrário. Comi risotos maravilhosos, lasanha incrível sem queijo (molho de carne apenas, maravilha mesmo), e o prato típico local, a bisteca alla fiorentina, que é até agora a melhor carne q já comi na vida. Então a cozinha italiana até aqui para mim foi isso: as coisas que já conhecia, que se transformaram nas melhores que já comi na vida. Não é pouco, hein?
E ainda teve os gelatos: de caqui, bacio e pistache, os melhores. Só a pizza achei estranha, a massa parecia um pão. Mas gostosa também, com deliciosos recheios, de um peperoni primoroso e funghi, mais funghi, como comi funghi nessa viagem. É época de funghi porcini.
Aí tem mais uma observação importante a fazer, e se refere ao Museu Uffizi. Esse museu me impressionou muito, pelo óbvio, se trata do maior acervo do renascimento existente no mundo. Mas aí temos o gancho interessante: onde mais poderia estar o maior museu renascentista do mundo que não no lugar onde tudo aconteceu? Mas quem freqüentou outros grandes museus mundo afora sabe que a coisa não é bem assim. O Louvre tem um acervo sobre Egito incrível, mas tá na França, né? Qual a relação com o Egito e etc. e tals. E a relação a gente já sabe, é sempre uma relação de dominação. Mas voltando à vaca fria, o que eu quero dizer é que adorei ver um Museu contando a sua própria história. O maior acervo renascentista do mundo está exatamente no Palácio dos Médicis, que bancaram aquela coisa toda. Firenze conta a si mesmo, e eu adorei estar ali, e ver as obras dos artistas "locais", e andar pelo palácio e saber que por ali passaram todos eles. Enfim. Um povo que tem o privilégio de se contar. Achei o máximo.


5 de nov. de 2010

Diario de viagem II

03.11.10

Onze horas depois de uma boa noite de sono, acordei achando que estava em casa, qual minha surpresa. Estava em Paris.
E jah que é assim, fomos tomar nosso café da manha em uma deliciosa boulangerie em Montparnasse, de nome Le Moulin de La Vierge. Nada menos que espetacular essa boulangerie, que tem a melhor torta de maça que jah comi na vida. Além de um delicioso pain aux chocolat, delicia das delicias. Marido morava no bairro e por isso conhece o lugar, que é uma boulangerie, mas agora tem uma mesinha em que se pode saborear as delicias do lugar. Uma senhora francesa entrou para comprar sua baguette e reparou: as xicaras que nos serviram eram raras de se encontrar atualmente em Paris. Chique minha gente. Muito chique.
Depois, as compras. Trouxe poucas roupas, porque me lembrava que quando vim à Paris era facil achar roupas no meu tamanho, que me serviam maravilhosamente, coisa impossivel no Brasil atualmente. Estou flertando com as lojas de tamanhos grandes, dado o padrao chines de modelagem brasileira. Pois muito bem, fui às compras.
Passeei por uma galeria em Montparnasse e comprei roupas boas e calças que pareciam ter sido costuradas sob medida. Agora pasmem: tudo isso na C&A. Vale a dica de que a C&A tem coisas boas, de qualidade e a preços honestos. Nao chega a ser baratinho, é preciso lembrar que estamos na Europa, mas ha boas pechinchas, especialmente quando se trata de la e cashmere. Comprei uma calça de la, por exemplo, bem mais barata do que encontraria no Brasil.
Dai que perdi a hora e tivemos que sair correndo, pois o trem para Firenze sairia em uma hora, ainda teriamos que almoçar, e ai na pressa o almoço nao foi muito glamuroso, comemos Kebab. Marido adora, eu ainda nao tenho uma opiniao formada. Aproveitamos para passar em outra boulangerie, comprar sanduiches de queijo gruyère e sair correndo pra fazer outra mala, depois correr para a estaçao de Bercy e de lah pegar o trem para Firenze.
Vale uma nota: o metro estava com problemas e tivemos que pegar um taxi para estaçao, que custou sete euros, ou quase vinte reais. Veja bem. Paga-se vinte reais num piscar de olhos no taxi em Sao Paulo. E com isso vai-se desconstruindo o mito de que Paris eh tao, tao, tao mais cara. Volto a isso logo mais.

p.s. faltam acentos no teclado italiano, como se pode peceber. mas tem è, à, ò e ù, tudo acentuado jah. queria saber como eles usam ;)

4 de nov. de 2010

Diário de viagem

A eleição da primeira mulher presidenta do Brasil merece um post que eu farei atrasada, quando voltar de viagem. Porque esta, a viagem, estava marcada para 01/11/10, e isso posto, aqui estou: Firenze. Mas comecemos do começo.

01.11.2010

Em São Paulo, uma correria sem fim, saímos de casa às cinco e meia, tendo que chegar ao aeroporto às sete, e quase perdemos o vôo, pois chegamos à sete e quarenta. A agradabilíssima Marginal Tietê se despedindo da gente e etc. e tals.

02.11.10

Chegamos à Zurich depois de uma viagem cansativa, em poltronas indecentes de tão minúsculas. Além disso, um indivíduo muito do mal educado na nossa frente, tornando a viagem bastante desagradável. Mas enfim chegamos a Zurich e de lá mais uma hora até Paris.

E Paris nos deu as boas vindas com suas lindas cores de outono, amarelas e alaranjadas. Do RER, o trem que liga o aeroporto Charles De Gaulle à Paris, vê-se as cités, que são as habitações na periferia de Paris. Do trem para o metrô, e nada de escadas rolantes, um sobe e desce de mala pra lá e pra cá, por fim chegamos à estação Corvissart, no bairro da Buttes aux Cailles, antigo quartel general da Comuna de Paris, bairro que estamos hospedados. Vale dizer que não teve escada que me inibisse de comprar o Le Monde que anunciava a primeira mulher presidenta do Brasil, com uma foto da festa da Paulista na capa.

Esse bairro é hoje um bairro de classe média boêmia, e com isso, um bairro de estudantes. Muitos restaurantes, algumas lojas, uma boulangerie bem pertinho do apartamento que estamos hospedados: estamos muito bem por aqui.

Marido saiu para comprar algo para comermos e algo para comer em Paris é sempre algo. E aqui vale o parênteses para quem ainda não sabe: marido morou em Paris durante 4 anos, o que faz com que a experiência de Paris para mim seja, alem de tudo, privilegiada. E assim eme trouxe baguete, patê de campagne, quichê louraine e um bourdeaux haute medoc para iniciarmos os trabalhos em Paris.

Resolvemos não dormir para entrar no fuso, então partimos para o Louvre, eu queria ver o Sena. Um ônibus em frente de casa e em poucos minutos estávamos na Rue de Rivoli, dali a pouco no Louvre, e logo depois em Saint Germain des Près, onde sentamos para um vinhozinho no café Les Deux Magots, um dos café onde iam Satre e Simone. Lembrei dela, como não?

Dali de volta para casa, para o sono dos justos. E dos sortudos, é claro ;

4 de out. de 2010


Eu estava muito otimista com a eleição da Dilma hoje, no primeiro turno. Era assim que eu queria: no primeiro turno, queria nossa festa hoje. Teremos que esperar um pouco mais.
Continuo, no entanto, acreditando na vitória da Dilma dia 31. E acredito nisso porque acredito na vitória de um projeto político que melhorou substancialmente a vida das brasileiras e brasileiros desse país.
Falo em projeto político, e insisto, especialmente quando ouço muitas pessoas dizerem que o PT e o PSDB são "a mesma coisa", e por isso, argumentam em favor de uma "terceira via". Existe, em parte dos eleitores de Marina Silva, a idéia de que o PT e o PSBD não diferem. E eu digo, afirmo, repito e argumento: o PT tem um projeto de país que foi colocado em prática nos 8 anos do governo Lula. Um projeto de política social, de política externa, de política econômica, um projeto de democracia participativa. Esse projeto difere, e muito, do projeto tucano. E é esse o ponto a ser explorado nesse segundo turno.
Sim, eu gostaria muito de eleger a primeira mulher presidenta da república do meu país hoje. Mas espero que o segundo turno seja o momento de expor as diferenças existentes entre os dois projetos de país que estão em jogo nessa eleição. Espero escrever sobre isso nos próximos dias, e não imediatamente, porque tem uma seleção de doutorado no meio do caminho. Mas conversemos, nesse segundo turno, sobre projetos de país. E nesse debate, tenho certeza: o projeto que Dilma Roussef representa é imbatível.

29 de set. de 2010

Links

Aproveitando uma popularidade emprestada dos queridos blogs que linkaram meu texto, recomendo a leitura dos textos a seguir, ainda no tema eleições:

- Texto de um amigo querido, pesquisador do samba paulistano, que declara seu voto no Netinho.

- Texto do NPTO, para quem ainda não leu, que declara seu voto em Dilma Rousseff.

- Texto autobiográfico da Maria Frô, que é também declaração de voto em Dilma.

E faz uns dias que só falto dormir com meu broche que me acompanha em tantas campanhas. Daqui até o segundo turno, que acredito, São Paulo levará Mercadante.

28 de set. de 2010

Vamos eleger Dilma Rousseff no primeiro turno

"a novidade é que o Brasil não é só litoral
é muito mais, é muito mais do que qualquer zona sul
tem gente boa espalhada por esse Brasil
que vai fazer desse lugar um bom país"
Milton Nascimento/ Fernando Brant

Na Carta Capital de duas semanas atrás, Mino Carta fala da incapacidade da maioria privilegiada entender um Brasil diverso daquele por eles sonhado, cultores que são de um passado que os fez donos do poder. E eu gostei muito de ler essas observações, porque vai de encontro a coisas que tenho pensando e aos poucos vão tomando forma na minha cabeça.
A quem a minoria privilegiada pode creditar a"culpa" pela eminente derrota nas eleições presidenciais? Culpará o Serra? O aparelhamento do Estado pelo PT-polvo? O "evidente" totalitarismo lulista? Nada disso parece dar conta, por mais esforçadas que sejam as vozes que pronunciam.
E a qualquer pessoa de bom senso tudo isso soa patético. Ontem, no debate, Serra disse que o PT prometeu acabar com o plano real. Um disparate, qualquer um de nós bem lembra que o tom da candidatura que elegeu Lula em 2002 era bem outro. Ou se esqueceu o candidato da famosa "carta aos brasileiros"? Digo isso para afirmar que essa bobajada golpista não serve a absolutamente nada e não tem poder explicativo nenhum. Por que o eleitor brasileiro escolhe pela continuidade do governo do PT?
Eu digo a vocês minha modesta opinião. Que é a mesma que eu tinha em 2002 e em 2006, tendo sido apenas beneficiada por anos de pesquisa empírica durante todo esse governo do qual falamos agora. Minha opinião é a de que o PT tem um projeto claro de nação, que foi colocado em prática nos últimos oito anos. Esse projeto de nação - e aqui vou resumir de forma um tanto grosseira - é basicamente um projeto de inclusão, que como o próprio governo coloca em seu "lema", é um projeto de "Um Brasil de Todos".
Nesse projeto de inclusão, nada mais coerente do que um projeto de transferência de renda que se torna a base da política social desse governo. Um projeto que foi pensado, elaborado, executado e ainda hoje é refletido e gerido por gente que estudou muito sobre pobreza, mas que além, participou intensamente do debate sobre formas de enfrentamento da pobreza no Brasil, conjugando acadêmicos, movimentos sociais, partido, igreja. E disso deriva o óbvio, mas que às vezes se esquece: o PT é um partido de bases.
Esse partido de bases efetivou uma política nacional de assistência social, aprovada numa conferência*, em 2003, que criou o SUAS - Sistema Único da Assistência Social. Isso mesmo, o programa guarda semelhanças com o SUS. E aconteceu no governo Lula, onde teve espaço de se consolidar a partir das demandas da sociedade organizada que tentava, desde 1993, com a publicação da LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social, se efetivar como política de direito. E e eu vou escrever uma tese sobre esse processo todo, na qual poderemos entender também todas as tentativas de desmonte** desse processo ocorridas nos oito anos de governo FHC. Vocês poderão conferir daqui a quatro anos.
Então que eu começo a falar muito e me embanano, me empolguei com meu objeto de estudo, mas eu tava falando mesmo é do projeto de nação, né? Um projeto de inclusão. Um projeto de governar para todos. E todos são todos, o que significa que os privilegiados não ficaram de fora. A gente bem queria que ficasse. Mas tão aí. E tão reclamando ainda. Por quê?
Porque a minoria privilegiada desse país é tacanha. E não suporta ver a figura do Lula, não suporta ver o pobre sair da linha da miséria e passar a consumidor e foco de pesquisa de mercado (vocês sabiam que as pesquisas de mercado para o público baixa renda cresceram enormemente no Brasil? também trabalho com isso, que nem só de reflexões acadêmicas vive esta que vos fala). Não suporta e não considera a hipótese de viver num país que ofereça mais dignidade ao cidadão. Prefere o carro blindado e os sistemas de segurança ao Bolsa Família e o ProUni. Porque precisa se diferenciar. É isso que a minoria privilegiada que lê aquela revista busca, freneticamente. Diferenciar-se desse "povinho".
Mas esse pessoal tem que engolir, agora, o voto racional do povinho. Porque o discurso de "Lula manipula os pobres com esmola"é risível. Diga-me: se sua vida melhorasse substancialmente em 8 anos de governo, você não votaria pela continuidade desse mesmo governo? Alguém me mostra o que há de irracional nesse voto, que eu realmente não consigo enxergar.
Se o pessoal que lê aquela revista tirasse o cabresto veria, por exemplo, que o programa que tanto crirticam como "esmola" é bastante elogiado fora do Brasil, em países desenvolvidos, aqueles países nos quais eles tanto se espelham. Mas preconceito cega, sabemos.
De minha parte, vejo muito coerência no voto do eleitor brasileiro. A maioria de eleitores são exatamente aqueles para quem o governo Lula mirou atenção, cumprindo seu projeto. E isso é um processo, cheio de idas e vindas, altos e baixos. Mas vem acontecendo. Estranho a mim seria se o eleitor não desse a resposta que está dando. Aí sim seria irracional.

*e falando em conferência, está aqui na minha frente um livro de um cientista político que mostra o fortalecimento dos conselhos e conferências de políticas públicas durante os oito anos do governo lula. sabemos da importância desses espaços públicos de controle social e deliberação. o nome do livro é "experiências nacionais de participação social"e o organizador, leonardo avritzer.

**por outro lado, na gestão FHC, o programa comunidade solidária esvaziou o conselho nacional de assistência social, nomeou renat*o aragão para o CONSEA e cancelou, arbitrariamente, a IV Conferência da Assistência, que deveria ter ocorrido em 2002, mas só aconteceu em 2003. quem será mesmo autoritário e anti-democrático?

27 de set. de 2010

Há dias ronda por aqui umas idéia sobre democracia e representação, assuntos que ocupam lugar cativo nessa minha cabeça que tem ciência política como formação. E a eleição traz muita lenha pra queimar sobre o assunto, por supuesto.
Aí lendo esse post da querida Mary W, e o post da Camila sobre Netinho de Paula, me deu vontade de escrever sobre representação.
Comecemos pelo Netinho, candidato a senador por São Paulo, pelo PCdoB. O dilema: votar ou não votar num candidato que tem em sua biografia caso ou casos de agressão à mulheres?
Para entrar nesse terreno, me parece pertinente voltar à idéia de representação. Então eu digo que acho bastante legítimo uma militante do movimento feminista não votar em Netinho. Porque essa militante tem uma causa, e essa causa luta contra exatamente isso, a violência contra mulher, nas suas várias e várias formas. Mas aí temos um manifesto de feministas que apoioam Netinho. E eu digo que acho bastante legítimo, também, esse voto e esse apoio. Por quê? Porque sou da turma do deixa disso e gosto de todo mundo? Não. Porque eu vejo uma clara representatividade nesse voto. Observem que as feministas que apoiam o Netinho são também militantes do PCdoB. Temos aí duas causas: o feminismo e o partido. E a junção entre movimento social e partido não é apenas comum, como de grande valia: agrega força e voz ao movimento.
Logo, ambas posições são legítimas e dignas de respeito. Seria possível argumentar que a posição das militantes feministas do PCdoB (e também do PT, que é da coligação) colocam o partido acima da causa feminista quando optam por um voto "pragmático" como esse, pois o partido está acima da causa, etc. etc. Seria possível, mas digo logo que discordo desse argumento. E acho raso. Porque existem alas do movimento feminista que acreditam que, através da política e da eleição de quadros do partido para o qual militam, pode-se obter ganhos efetivos para a causa feminista. Seja simplesmente (e sabemos que não é pouco) por colocar o assunto na pauta e fazer dele agenda de política, seja pelas políticas que efetivamente se consegue implementar quando se tem no senado um candidato do seu partido.
Porque, de feminismo eu entendo pouco, assumo e retomo daqui a pouco. Mas de política partidária entendo um pouquinho mais. E digo que é apressada a análise de quem não reconhece que depois de toda a discussão em torno do crime cometido por Netinho, ele vai para o Senado e se lixa para a questão da mulher, ou comete de novo um crime e etc. etc. etc. Netinho será MUITO cobrado por cada uma dessas mulheres militantes que o apoiam. Ou a gente vai achar que mulher é bobinha e tá apoiando o cara como pau mandado do partido? Não, a gente não vai achar isso, né? Peloamor.
Então meu resumo da ópera 1 é: as militantes feministas que apoiam Netinho acreditam que é melhor tê-lo como Senador do que perder a vaga para um Tuma (exemplo de respeito aos direitos humanos). Vão cobrar dele cada centavo desse apoio, porque não são bobinhas, ao contrário, são mulheres de luta, e diante disso, admiráveis. E tem mais uma coisa. São tão espertas, essas feministas, que se aliam a um cara com grande representatividade: um negro da Cohab.
E vamos lá: Netinho representa sim o negro, pobre, da periferia, chegando ao Senado. Tem apelo popular. Tem apoio em movimentos de base (e pra quem não conhece movimento de base é preciso dizer: isso é bem importante nas periferias, é uma das principais bases do PT e esses caras não são de brincadeira não: vão cobrar o cara também). Tem apoio do movimento negro. Porque, afinal de contas, essa também é uma causa, ou não é? Quem disse que o feminismo é mais legítimo que o movimento negro? Ninguém me disse, e espero, não diga nunca, nem insinue. São movimentos importantíssimos. Somados, nossa. Enchem de legitimidade o voto. E vamos lá: temos uma feminista candidata. Temos a chance de ter uma feminista e um representante do movimento de base apoiado pelo movimento negro. Não dá pra ter tudo, mas, sinceramente, temos bastante.
E eu confesso que sinto medo do voto elitista contagiando petistas e simpatizantes, sabe? O repúdio ao pagodeiro da Cohab, agressor de mulheres. Porque, se militantes feministas apoiam o cara (não são todas as militantes feministas, devemos ressaltar) e o que temos como alternativa a ele, de fato, é Tuma e Aloísio Nunes. Ah, minha gente. Sem demonizar, né?
E por fim eu faço minha declaração de voto. Pensei bastante para fundamentar meu voto no Netinho. E de antemão eu digo a vocês que seria difícil não votar pela orientação do partido. Porque, se estou falando de representação, preciso falar do que me representa. E antes de mais nada, em se tratando de política, o PT me representa. E eu tendo a confiar, na maioria esmagadora das vezes, nas orientações do meu partido. Mas em se tratando do Netinho, foi preciso refletir. Porque o feminismo também é uma causa no meu mundo. Embora eu não seja feminista no sentido literal do termo - e eu digo isso com muito respeito ao movimento: não tenho história no movimento feminista para me intitular uma feminista como me intitulo petista - eu considero a causa de suma importância, ela tem todo meu apoio, respeito, e a militância. Aí procurei saber o que as militantes feministas do partido pensavam. Conversei com amigas feministas. E formulei a minha argumentação de voto que é a seguinte: temos uma feminista no Senado. E com Netinho, teremos um representante do movimento de base. Eu considero essa dupla bastante representativa para o partido. E sei que, se o partido o escolheu, vai cobrar dele postura digna de um senador que foi apoiado pelo PT e sua história enquanto partido de base; as feministas que o apoiam vão cobrar também. E eu prefiro claro, dois senadores da nossa coligação do que um voto de protesto*. E eu prefiro também, que ele esteja do nosso lado, envergonhado pelo que fez e respondendo à altura do apoio que recebeu. E vocês podem dizer que eu sou otimista demais, que lhes digo, sou mesmo: é bacana quando a militância carrega otimisto, na minha modesta opinião. E otimismo foi o que eu nunca deixei de ter com meu partido. Até agora, temos ido muito bem.

*voto de protesto é o que seria possível nesse caso, pois a candidata feminista não tem chance de ganhar. mas fique claro: eu respeito o voto de protesto de feministas que fizerem essa opção. e acho legítimo.

**continuando a falar sobre representação, quero escrever sobre tiririca. mas me inventaram uma prova de francês na semana da eleição que embolou o meio de campo que já é naturalmente embolado. então, fico só na promessa, por enquanto.

***se você não leu o post abaixo, acho pertinete nessa última semana de campanha. assinado: a modesta.