"a novidade é que o Brasil não é só litoral
é muito mais, é muito mais do que qualquer zona sul
tem gente boa espalhada por esse Brasil
que vai fazer desse lugar um bom país"
Milton Nascimento/ Fernando Brant
é muito mais, é muito mais do que qualquer zona sul
tem gente boa espalhada por esse Brasil
que vai fazer desse lugar um bom país"
Milton Nascimento/ Fernando Brant
Na Carta Capital de duas semanas atrás, Mino Carta fala da incapacidade da maioria privilegiada entender um Brasil diverso daquele por eles sonhado, cultores que são de um passado que os fez donos do poder. E eu gostei muito de ler essas observações, porque vai de encontro a coisas que tenho pensando e aos poucos vão tomando forma na minha cabeça.
A quem a minoria privilegiada pode creditar a"culpa" pela eminente derrota nas eleições presidenciais? Culpará o Serra? O aparelhamento do Estado pelo PT-polvo? O "evidente" totalitarismo lulista? Nada disso parece dar conta, por mais esforçadas que sejam as vozes que pronunciam.
E a qualquer pessoa de bom senso tudo isso soa patético. Ontem, no debate, Serra disse que o PT prometeu acabar com o plano real. Um disparate, qualquer um de nós bem lembra que o tom da candidatura que elegeu Lula em 2002 era bem outro. Ou se esqueceu o candidato da famosa "carta aos brasileiros"? Digo isso para afirmar que essa bobajada golpista não serve a absolutamente nada e não tem poder explicativo nenhum. Por que o eleitor brasileiro escolhe pela continuidade do governo do PT?
Eu digo a vocês minha modesta opinião. Que é a mesma que eu tinha em 2002 e em 2006, tendo sido apenas beneficiada por anos de pesquisa empírica durante todo esse governo do qual falamos agora. Minha opinião é a de que o PT tem um projeto claro de nação, que foi colocado em prática nos últimos oito anos. Esse projeto de nação - e aqui vou resumir de forma um tanto grosseira - é basicamente um projeto de inclusão, que como o próprio governo coloca em seu "lema", é um projeto de "Um Brasil de Todos".
Nesse projeto de inclusão, nada mais coerente do que um projeto de transferência de renda que se torna a base da política social desse governo. Um projeto que foi pensado, elaborado, executado e ainda hoje é refletido e gerido por gente que estudou muito sobre pobreza, mas que além, participou intensamente do debate sobre formas de enfrentamento da pobreza no Brasil, conjugando acadêmicos, movimentos sociais, partido, igreja. E disso deriva o óbvio, mas que às vezes se esquece: o PT é um partido de bases.
Esse partido de bases efetivou uma política nacional de assistência social, aprovada numa conferência*, em 2003, que criou o SUAS - Sistema Único da Assistência Social. Isso mesmo, o programa guarda semelhanças com o SUS. E aconteceu no governo Lula, onde teve espaço de se consolidar a partir das demandas da sociedade organizada que tentava, desde 1993, com a publicação da LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social, se efetivar como política de direito. E e eu vou escrever uma tese sobre esse processo todo, na qual poderemos entender também todas as tentativas de desmonte** desse processo ocorridas nos oito anos de governo FHC. Vocês poderão conferir daqui a quatro anos.
Então que eu começo a falar muito e me embanano, me empolguei com meu objeto de estudo, mas eu tava falando mesmo é do projeto de nação, né? Um projeto de inclusão. Um projeto de governar para todos. E todos são todos, o que significa que os privilegiados não ficaram de fora. A gente bem queria que ficasse. Mas tão aí. E tão reclamando ainda. Por quê?
Porque a minoria privilegiada desse país é tacanha. E não suporta ver a figura do Lula, não suporta ver o pobre sair da linha da miséria e passar a consumidor e foco de pesquisa de mercado (vocês sabiam que as pesquisas de mercado para o público baixa renda cresceram enormemente no Brasil? também trabalho com isso, que nem só de reflexões acadêmicas vive esta que vos fala). Não suporta e não considera a hipótese de viver num país que ofereça mais dignidade ao cidadão. Prefere o carro blindado e os sistemas de segurança ao Bolsa Família e o ProUni. Porque precisa se diferenciar. É isso que a minoria privilegiada que lê aquela revista busca, freneticamente. Diferenciar-se desse "povinho".
Mas esse pessoal tem que engolir, agora, o voto racional do povinho. Porque o discurso de "Lula manipula os pobres com esmola"é risível. Diga-me: se sua vida melhorasse substancialmente em 8 anos de governo, você não votaria pela continuidade desse mesmo governo? Alguém me mostra o que há de irracional nesse voto, que eu realmente não consigo enxergar.
Se o pessoal que lê aquela revista tirasse o cabresto veria, por exemplo, que o programa que tanto crirticam como "esmola" é bastante elogiado fora do Brasil, em países desenvolvidos, aqueles países nos quais eles tanto se espelham. Mas preconceito cega, sabemos.
De minha parte, vejo muito coerência no voto do eleitor brasileiro. A maioria de eleitores são exatamente aqueles para quem o governo Lula mirou atenção, cumprindo seu projeto. E isso é um processo, cheio de idas e vindas, altos e baixos. Mas vem acontecendo. Estranho a mim seria se o eleitor não desse a resposta que está dando. Aí sim seria irracional.
*e falando em conferência, está aqui na minha frente um livro de um cientista político que mostra o fortalecimento dos conselhos e conferências de políticas públicas durante os oito anos do governo lula. sabemos da importância desses espaços públicos de controle social e deliberação. o nome do livro é "experiências nacionais de participação social"e o organizador, leonardo avritzer.
**por outro lado, na gestão FHC, o programa comunidade solidária esvaziou o conselho nacional de assistência social, nomeou renat*o aragão para o CONSEA e cancelou, arbitrariamente, a IV Conferência da Assistência, que deveria ter ocorrido em 2002, mas só aconteceu em 2003. quem será mesmo autoritário e anti-democrático?
Um comentário:
Muito bom!!!! Dá um alívio enorme ler seu artigo depois de tanto palavrório desonesto que vem sendo publicado pela mídia.
Que venha Dilma, de primeiro turno!
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