10 de out. de 2008


Então. Assisti O Ensaio sobre a Cegueira. Tava receosa demais de ver o filme, porque é aquilo, gostei tanto do livro. Mais tanto. Achei que ia detestar o filme e pronto.
Mas o que se sucedeu foi o seguinte: o filme me pareceu fazer mais sentido para quem leu o livro, e nisso ele é bastante interessante. Não sei se uma pessoa que não leu sente o filme da mesma forma. Então eu gostei. Porque fui recuperando o livro na minha cabeça a partir do filme. E lembrando, por exemplo, das imagens que fazia na minha cabeça enquanto lia. Que, por exemplo, a mulher do médico na minha cabeça não tinha uma fisionomia definida. E o sanatório era um lugar branco, porque a cegueira era branca. E aí no filme o sanatório é de outra cor, hostil. Meirelles faz o mesmo que fez em Cidade de Deus, onde deu ao filme a cor da favela. O sanatório tinha a cor de um sanatório, apesar de eu nunca ter entrado em um, eu imagino que seja assim, como ele exibe. Então eu gostei do filme.
Até que chega a cena final. E tem um narrador absolutamente mal colocado ali, eu achei. Eu finalizaria sem narrador, achei ruim a opção. Além disso, o final do filme não é como o final do livro. Isso também foi estranho para mim. Mas não compromete muito, eu acho. Compromete um pouco, vai.

*e a julianne moore pra fazer a mulher do médico foi perfeita. não tinha escolha melhor.

9 de out. de 2008

meu pedido pro universo antes de dormir:
eu quero trabalhar numa coisa que me dê tesão, que faça sentido.
Estou exausta, acordei super cedo para trabalhar nos últimos dois dias. E trabalhei até a hora em que o interfone tocou e eram as amigas chegando para o jantar. E ainda bem que elas vieram, ainda bem que elas existem, e são tão sacadas, e inteligentes. E ainda bem que elas me conhecem tanto e sempre me falam as coisas mais legais. Porque no final das contas eu ainda não sei bem pra onde vou. Mas qualquer que seja minha dúvida, poder compartilhar com as minhas amigas é tão rico. A vida parece até que fica mais leve.

6 de out. de 2008


Rubens Gerchman - Purple Couple

Tendo tanta, mas tanta coisa a fazer, hoje saí do trabalho e não sabia pra onde ir. Sério mesmo, eu parecia uma barata tonta no centro da cidade de São Paulo, coisa muito apropriada, diga-se de passagem. Não sabia se ia ao mercado comprar umas poucas frutinhas. Não sabia se ia tirar dinheiro, onde fica mesmo o banco real? Quem sabe ir direto pra casa, afinal, tenho tanta coisa pra fazer. De táxi ou de metrô, porque de metrô ando um bocado. Aí decidi fazer tudo junto. Tirei dinheiro, peguei metrô, jantei na rua, passei no mercado e de lá voltei de táxi. Agora estou aqui ensaiando começar a trabalhar. Pra começar, tenho que tirar Chico Buarque da vitrola, porque com ele cantando eu me desconcentro. E por aí vai.
Porque além de tudo o que é objetivo e está aqui gritando: faça!, além disso eu estou com a cabeça tão cheia de coisas. A viagem, né? Que significa tantas coisas nesse momento. Uma distância tão necessária do trabalho, apesar dessa viagem ser trabalho. Outra distância que não é nada necessária, mas que pode ser vivida com segurança. E isso é tão especial. E também é difícil porque quase nada que conheço e lá muito fácil. Mas é especial sendo difícil.
E tem os olhos do A. a me desconcentrar. Hoje tou romântica, tou piegas. Que desde manhã cedinho, olhando ele se mexendo entre todos os afazeres, eu ia sentindo tanto amor por ele, tanto. Cê tem toda razão, Mary, e a nostalgia talvez já tenha começado hoje. E nesse embalo vou contar um segredinho: quando me apaixonei por A. às vezes chorava de felicidade. Tão encantada no amor que se anunciava, me emocionava mesmo, olhos cheios d'água em pensar. Aos poucos isso vai dimuindo que a vida da gente nunca é um eterno looping emocional, coração não aguenta, então vai dando lugar a outras formas de sentir. Mais brandas, diriam. Não sei. Mas hoje, pensando nos olhos do amor, os meus encheram de lágrima. De certeza que a gente precisa sentir de quando em quando. Certeza de que ganhei o presente mais bonito, em Moçambique. Acho que vou lá agradecer.


Ainda inconformada com a votação do Kassab aqui na terra da garoa e do engarrafamento - apesar de concordar com ela, surpresa não é, é mais triste mesmo - , me preparo para um dia de trabaho intenso (minha cara de pau é enorme, dizer que me preparo para um dia de trabalho intenso às onze e meia da manhã... uma tarde de trabalho intenso, vai)
E os próximos dias serão de trabalho intenso, todos eles, porque quinta-feira eu embarco para Moçambique. Para quem não lia meus blogs antigos, devo dizer que já fui à Moçambique ano passado, início desse mesmo trabalho que vou lá agora finalizar. Fico uns dias em Maputo e mais dias em Beira, a cidade em que o Mia Couto nasceu e na qual eu me apaixonei.
Porque quem não lia blog antigo também não deve saber que foi em Moçambique que me apaixonei pelo namorado, também conhecido como o moço dos olhos mais bonitos. Que hoje no carro, a caminho do trabalho, brilhavam de uma forma tão especial, daquela forma que faz a gente se apaixonar mais uma vez, e muitas vezes.
Nós praticamente nos conhecemos em Moçambique porque antes da viagem só havíamos nos visto umas duas vezes rápidas, na empresa. A coisa foi assim: formávamos uma equipe de quatro pessoas que nunca tinham se visto na vida e foram se conhecer na África, fazendo um estudo de impacto ambiental na cidade da Beira. E foi coisa muito boa na vida esse trabalho e os frutos que deu. Estou bem animada para voltar e olhar aquele lugar tudo de novo.
E a viagem começa bem porque encontro o namorado em Maputo na sexta e passamos o fim de semana juntos. Ele volta, eu fico. E inevitalmente, quelque chose em Moçambique terá muita história pra contar. Mas antes disso, a pessoa que vos escreve tem tanta, mas tanta coisa pra fazer. Que nem dá pra entender como estou aqui sentada, escrevendo no blog.

Tava acompanhando a apuração das eleições, e claro, estou super decepcionada com esse resultado. Acreditando de verdade que é possível reverter isso à favor da Marta, mas. São Paulo sempre me sai com essas nas eleições, sempre.
Resultado bastante inesperado em BH também. Mas esse como resposta da lambança do Pimentel. E a cidade perde.
E no Rio, Gabeira no segundo turno, como muitos queriam. Eu, que não vejo nada de esquerda no Gabeira hoje em dia, não sou nada otimista com o segundo turno carioca. Em compensação em Salvador, muito bom ACM Neto fora da disputa. Muito bom mesmo.
E mudando de assunto, na sexta vimos o show da Mônica Salmaso e Pau Brasil, finalizando a turnê do cd maravilhoso, Noites de Gala, Samba na Rua. A boa nova é que eles lançaram um DVD, que, dispensa dizer, é imperdível.

1 de out. de 2008

Eu não ando muito de ônibus pela cidade. Na verdade, até pego ônibus algumas vezes na semana, mas fico muito pouco, dois pontos só, porque moro muito perto do trabalho, mesmo. No mais meus principais meios de transporte são metrô e táxi. Porque moro meio perto de tudo, então táxi não sai muito caro. Muito bem, mas hoje peguei ônibus, tarde da noite, e fiquei dentro dele por um bom tempo. E me vi completamente amedrontada, medo de ser assaltada no ônibus. Pode ser que tenha a ver com o fato de, fazendo pesquisa sobre violência em BH, um delegado me contar da ala incidência de assaltos a ônibus. E com certeza tem a ver com o fato da minha irmã ter contado outro dia que uma amiga dela foi assaltada exatamente nesta linha de ônibus que peguei hoje. E por que estou contando essa ladainha toda? Porque me entristece esse viver com medo das coisas. De verdade, muito ruim essa sensação de viver acuada. E olha que eu não sou uma pessoa que dá muita bola pra violência urbana não, viu? Isso assusta ainda mais, na verdade.
E por falar em problemas da cidade, hoje vi o Kassab. Já contei que o comitê do homi é no prédio onde o namorado deixa o carro estacionado? Pois é.