29 de jul. de 2009

Estava catando feijão (cinco quilos, mais especificamente) e me lembrei de uma história das estadas do pessoal do trabalho pelas terras moçambicanas.
A colega de trabalho me contou que depois de muitos meses em Moçambique, a turma toda morrendo de saudade da comidinha brasileira, do arrozinho com feijão, eis que a cozinheira do restaurante mais frequentado pelo pessoal na cidade - Tete, mais especificamente - anuncia: fará feijoada no sabadão.
Essa colega então mobiliza toda a população brasileira presente no local. Sábado, uma hora da tarde, todo mundo no restaurante tal: haverá feijoada. Então chega o grande dia, todo mundo a postos, esperando o tão desejado prato, que nesse dia nem demorou horas para ser servido, como é de praxe no serviço local. E com o prato servido, a surpresa: feijão branco, pedaços de carne de boi e... salsicha!
Eu por aqui, vendo a variedade de delícias de carne esperando para se transformarem em feijoada, com esse feijão pretinho, só fico imaginando a frustração de meus compatriotas diante desse prato tão insólito, para dizer o mínimo.

27 de jul. de 2009

Hoje o dia foi puxado, daqueles de exaurir a pessoa, começo da noite eu estava aos pedaços. Aí liguei para o namorado, falei do cansaço, falei coisas desencontradas, então falamos da nossa agenda pré-feijoada, e fui ficando calma, feliz com os preparativos. Agora estou aqui bem mais tranquila, esperando a roupa bater na máquina para estendê-la e dormir. Nossa conversa me deu fôlego.
E eu fiquei pensando muito numa coisa que ele disse: espera para ver o que acontece. E é isso. Espero sim, vou ver o que acontece. Sem medo do acontecimento. Porque coisas acontecem todos os dias. Bobagem isso de viver com medo de se chatear. Porque esse medo antecipa um sofrimento o tempo todo. E nem sempre a gente sofre e se chateia, né? Não, não mesmo. E é bom ter quem diga: espera.

Ontem fiz pão, o primeiro da minha vida. E ficou muito bom, considerando ser o primeiro. Fiz de farinha branca, bem comum, era receita de um pão de forma, então ficou bem denso. Mas com aquele sabor inconfundível de pão caseiro, sabor que me lembra a minha madrinha, a única pessoa que eu conhecia, quando criança, que fazia pães.
Tenho me lembrado muito da minha madrinha ultimamente, desde que comecei a levar a sério essa coisa de cozinhar, e com isso, comer menos comidas industrializadas. Venho me lembrando sempre dela, da cozinha da casa dela, de onde sempre saíam comidas gostosas e saudáveis. Na casa dela sempre tinha uma variedade enorme de verduras e legumes, pão caseiro, geléia caseira. E uns bolos de chocolate que ela fazia especialmente quando eu ia passar as férias.
Venho notando que me agrada muito a idéia de cozinhar, nesse sentido, de quem prepara a própria comida, está atento a isso. Acho cuidadoso, e mais, acho que é um carinho. Pensar no que comer, escolher os ingredientes, viver o processo de transformá-los. E quando vou me lembrando do fascínio que minha madrinha me causava, naquela cozinha farta e colorida, vejo que de alguma forma isso sempre esteve em mim. E suspeito que ela nem imagina.
E por falar nisso, semana que vem o namorado vai cozinhar no meu aniversário. Ele faz a melhor feijoada que eu já comi na vida, e por aqui já entrei em contagem regressiva. É um carinho, é uma delícia.

24 de jul. de 2009

"Tinha vantagens não saber do inconsciente, vinha tudo de fora, maus pensamentos, tentações, desejos. Contudo, ficar sabendo foi melhor, estou mais densa, tenho âncora, paro em pé por mais tempo. De vez em quando ainda fico oca, o corpo hostil e Deus bravo. Passa logo. Como um pato sabe nadar sem saber, sei sabendo que, se for preciso, na hora H nado com desenvoltura. Guardos sabedoria no almoxerifado".
Adélia Prado

22 de jul. de 2009

Comprei um croissant de chocolate toda animada, pois me parecia o pan du chocolat que comi na França e guardo na lembrança com toda água na boca desse mundo. Pois muito bem, o negócio é até saborosinho. Mas tinha um gosto de queijo ao fundo, em algumas partes. Como se estivesse sendo feito junto com o croissant de queijo e algo escapou, sei lá. Eu mereço.
E lá vou eu rumo as trinta anos. Pois é, daqui a dez dias, mais especificamente. E isso é coisa que não me abala. Achei que fosse ficar abalada, não por mal, naquele sofrimento de: estou ficando velha. Porque as pessoas já me chamam de senhora desde os vinte e cinco, quando os cabelos brancos começaram a aparecer, herdados diretamente da genética paterna: ele teve cabelo branco, e muito, aos vinte e dois.
Achei que fosse ficar abalada por alguma mudança radical que os trinta anos podem ocasionar na vida de uma mulher. Qual o quê. Nada do que tem me acontecido pode ser creditado aos trinta anos. Há mudanças, mudanças enormes sim. Mas que vêm ocorrendo há algum tempo, fruto de disposições minhas em remexer estruturas. Nem maturidade é. É outra coisa, não tem a ver com idade.
Isto posto, chegarei aos trinta achando sem abalos. E querendo muito comemorar, são três décadas, afinal, e é um bom título para o convite da festa.

14 de jul. de 2009

"sinto, maria
que estás de visita
teu corpo se agita
querendo dançar"

Correu tudo às mil maravilhas com a mudança, namorado já está bem instalado, num lugar bacana e perto da minha casa. Tudo bem.
Ontem me matriculei no francês e com isso começo a preparação para o doutorado. E assim começou uma semana com algumas promessas. Algumas bem concretas e objetivas. Outras bastante abstratas e silentes. Que de tanto, eu nem sei bem por onde começar.

10 de jul. de 2009

As coisas acontecem todas ao mesmo tempo, é sabido. Namorado se muda para o apartamento novo amanhã, hoje foi a entrega final de um trabalho, e ontem minha sobrinha, que está de férias na casa do meu irmão, veio dormir aqui. E eu? Desdobrando-me em várias, porque sim, eu quero fazer tudo.
Mas é claro que quando as coisas são prazer, a gente faz melhor, com mais disposição. A mudança é uma coisa demais de boa, pela qual o namorado espera ansioso, e eu estou adorando participar disso. A sobrinha dormir aqui comigo foi delícia e foi a chance de ficar com ela sem mediadores, descobrir dela coisas fofíssimas, e que passam tão rápido. E foi gostoso, brincamos muito, ela falou pelos cotovelos, e dormiu falando, praticamente, exausta. E eu achei o máximo essa capacidade de aproveitar até a última gota a diversão. Tive vontade de tentar fazer igual, nem que seja um bocadinho.

8 de jul. de 2009

Ah, e tem mais uma, essa da série vergonha alheia. Uma socióloga lá no trabalho chega para a arquiteta que trabalha na minha frente e dispara: você sabe desenhar bonitinho?
Aí toma uma bronca do geólogo, que diz: isso é coisa que se pergunte para uma arquiteta? só podia ser socióloga...
Eu mereço.
É claro que é bom ter uma pessoa que limpa sua casa. Porque é claro que eu não limpo vidros. E odeio, com todas as minhas forças, passar pão no chão, limpar azulejo e por aí vai, a lista imensa. Mas. Porque tudo sempre tem um mas. É muito estranho, para não dizer que é um saco, ter uma pessoa arrumando a sua casa. Ou desarrumando, dependendo do ponto de vista.
Porque a empregada aqui de casa arruma as minhas coisas espalhadas pela casa. E até aí tudo bem, é o que se espera dela. Mas já é até clichê aquela máxima de que a bagunça da gente têm sua lógica própria, o que é uma verdade irrevogável. E aí quando se trata da minha casa, a coisa complica e muito. Porque além da bagunça, ou apesar dela, eu sou uma pessoa, digamos "sistemática" (meu avô é que costuma usar esse adjetivo. acho que dá conta). Isso porque mesmo havendo brincos espalhados pela casa toda, na hora de guardá-los, tenho três caixinhas para isso. Uma para brincos muito miudinhos, que uso muito. Outra para brincos maiores, que também uso muito. E uma para aqueles que não uso nunca, os esquecidos. E muito bem, claro que vocês já imaginam o que aconteceu: a empregada guardou todos na caixa dos esquecidos. E eu fico aqui em pânico, procurando os benditos brincos muito usados no meio daquele monte que eu nem lembrava que existia. E é um monte mesmo.
Além disso, e mais grave. Tenho duas tesouras em casa, uma no banheiro, outra na cozinha. Ah, tem uma na lavanderia também, bem velhinha. E eu uso uma em cada cômodo porque é uma para cada coisa mesmo, coisas que só se fazem na cozinha ou no banheiro, ué. E ontem, na hora de cozinhar, cadê a tesoura? Desaparecida, a pobre. Eu começo a procurar na cozinha toda, claro, porque ao invés de pendurá-la, a empregada deve tê-la guardado. Na cozinha.
Qual o quê. Depois de muito tempo, já perto de dormir, avisto minha tesoura no porta canetas, no quarto. Veja bem. Não quero mais ninguém arrumando a minha casa. Só limpar já tá muito, muito bom.

7 de jul. de 2009

Eu acordei bem cedo, mas enrolo, enrolo, e pronto, já estou atrasada e sem tempo de escrever aqui. Como pode, uma pessoa se enrolar tanto? Prazer, esta sou eu.

1 de jul. de 2009

"achei um 3x4 teu e não quis acreditar
que tinha sido há tanto tempo átras
um exemplo de bondade e respeito
do que o verdadeiro amor é capaz"

Hoje eu estou particularmente feliz, porque a vida está recheada de notícias boas.
A decisão de prestar doutorado realmente me animou muito, me deu novos ares. Estou abrindo novas possibilidades de trabalho também, e isso é bom. Além das coisas boas para mim, coisas boas para o namorado, e a mudança dele, tão esperada, está aí. Bom como tudo caminha bem.
Na verdade, lendo o que escrevi na primeira frase, reconheço que faz tempo que as notícias boas nos acompanham. Sexta passada encontrei uma grande amiga, que não via há tempos. Ontem ela me escreveu, disse que eu cresci, que estou mais segura, e visivelmente mais feliz. E é exatamente assim que eu me sinto. Não que a vida não coloque desafios no caminho. Estes têm sido muitos. Mas na mesma medida coloca coisas boas e hoje eu estou sentindo um vigor, uma alegria. Ouvindo a respiração mais profunda do amor, que dorme ao meu lado. Esses sopros tão bons de vida